Saturday, May 10, 2008

Pois é!
Há que se repetir: "O homem é o lobo do homem."
Chega o sábado, quase cortando... Trazendo o sono, o descanso que cansa, e as mágoas estampadas nos sonhos (sonhos?!) da noite.
Antes disso ainda, uma bomba, que explode em dúvidas. Como em uma atrocidade; como o "caso Isabella".
Vilão, inocente? Este último não, pelo menos em meu sentido aguçado. Mas de que importância tem o que sinto? Nunca teve. E pra quê vou generalizar? Nunca se sabe. E isso é que divide.
Eu espero que Deus A guie... A acalme, e que mostre a sua verdade.
Mas a cada dia me decepciona os sentimentos destrutivos que as pessoas carregam.
Isso me deixa sem vontade de confiar nas pessoas, em um futuro de paz!
Ah, Ami, eu quero pelas menos minhas setecentas medidas... Será que assim posso ir no seu disco voador?!
Os pré-requisitos a uma vida digna são falhos... Não nos tornam realmente humanos.
É uma vergonha! Uma vergonha! Uma vergonha sem escrúpulos!

Eu concordo com o Zeca: "É mais fácil cultuar os mortos que os vivos..."

E pra combinar com minha obscuridão mental, mais um pouco de literatura das trevas! ahahhahahhha

O CEMITÉRIO

Pelas ruas de túmulos, fomos calados. Eu olhava
vagamente aquela multidão de sepulturas, que trepavam,
tocavam-se, lutavam por espaço, na estreiteza da vaga e
nas encostas das colinas aos lados. Algumas pareciam se
olhar com afeto, roçando-se amigavelmente; em outras,
transparecia a repugnância de estarem juntas. Havia
solicitações incompreensíveis e também repulsões e
antipatias; havia túmulos arrogantes, imponentes, vaidosos
e pobres e humildes; e, em todos, ressumava o esforço
extraordinário para escapar ao nivelamento da morte, ao
apagamento que ela traz às condições e às fortunas.
Amontoavam-se esculturas de mármore, vasos, cruzes e
inscrições; iam além; erguiam pirâmides de pedra tosca,
faziam caramanchéis extravagantes, imaginavam
complicações de matos e plantas - coisas brancas e
delirantes, de um mau gosto que irritava. As inscrições
exuberavam; longas, cheias de nomes, sobrenomes e
datas, não nos traziam à lembrança nem um nome ilustre
sequer; em vão procurei ler nelas celebridades,
notabilidades mortas; não as encontrei. E de tal modo a
nossa sociedade nos marca um tão profundo ponto, que até
ali, naquele campo de mortos, mudo laboratório de
decomposição, tive uma imagem dela, feita
inconscientemente de um propósito, firmemente desenhada
por aquele acesso de túmulos pobres e ricos, grotescos e
nobres, de mármore e pedra, cobrindo vulgaridades iguais
umas às outras por força estranha às suas vontades, a
lutar...
Fomos indo. A carreta, empunhada pelas mãos profissionais
dos empregados, ia dobrando as alamedas, tomando ruas,
até que chegou à boca do soturno buraco, por onde se via
fugir, para sempre do nosso olhar, a humildade e a tristeza
do contínuo da Secretaria dos Cultos.
Antes que lá chegássemos, porém, detive-me um pouco
num túmulo de límpidos mármores, ajeitados em capela
gótica, com anjos e cruzes que a rematavam
pretensiosamente.
Nos cantos da lápide, vasos com flores de biscuit e, debaixo
de um vidro, à nívea altura da base da capelinha, em meio
corpo, o retrato da morta que o túmulo engolira. Como se
estivesse na Rua do Ouvidor, não pude suster um
pensamento mau e quase exclamei:
— Bela mulher!
Estive a ver a fotografia e logo em seguida me veio à mente
que aqueles olhos, que aquela boca provocadora de beijos,
que aqueles seios túmidos, tentadores de longos contatos
carnais, estariam àquela hora reduzidos a uma pasta
fedorenta, debaixo de uma porção de terra embebida de
gordura.
Que resultados teve a sua beleza na terra? Que coisas
eternas criaram os homens que ela inspirou? Nada, ou
talvez outros homens, para morrer e sofrer. Não passou
disso, tudo mais se perdeu; tudo mais não teve existência,
nem mesmo para ela e para os seus amados; foi breve,
instantâneo, e fugaz.
Abalei-me! Eu que dizia a todo o mundo que amava a vida,
eu que afirmava a minha admiração pelas coisas da
sociedade - eu meditar como um cientista profeta hebraico!
Era estranho! Remanescente de noções que se me
infiltraram e cuja entrada em mim mesmo eu não
percebera! Quem pode fugir a elas?
Continuando a andar, adivinhei as mãos da mulher,
diáfanas e de dedos longos; compus o seu busto ereto e
cheio, a cintura, os quadris, o pescoço, esguio e modelado,
as espáduas brancas, o rosto sereno e iluminado por um
par de olhos indefinidos de tristeza e desejos...
Já não era mais o retrato da mulher do túmulo; era de
uma, viva, que me falava.
Com que surpresa, verifiquei isso.
Pois eu, que vivia desde os dezesseis anos,
despreocupadamente, passando pelos meus olhos, na Rua
do Ouvidor, todos os figurinos dos jornais de modas, eu me
impressionar por aquela menina do cemitério! Era curioso.
E, por mais que procurasse explicar, não pude.


(Lima Barreto)

2 comments:

Wolfgang Pistori said...

la plimela parte!

Rafa, nem sei se tu se lembras daquela storia que eu te disse, que eu tava ficando meio socialista e tal de não ver o cara passar fome e tudo mais, eh mais ou menos por aeh, vou sentindo nojo, enojado vou, mas sempre achei que pudia ser mais que um livro infantil que incentiva a matar, matar alguem, que direito temos? e os deveres? quem te ensinou?
mas da mesma maneira que sinto nojo do mundo, fico triste de ver que o disco ficou tão longe fisicamente de mim, pensei colocar um peh nele, mas antes que eu fugisse, ele se foi!ainda o procuro, não pela sua estrutura, nem pelo seu destino, simplesmente pq algo meu ficou la, não sei se são sóh as lembramças ou akilo que a maioria diz estar no peito, mas tava na minha cabeça. como eh mesmo o nome dakilo?
eh uma pena existirem mais discos por aeh, vou guardar o meu que jah ta obsoleto e vou fugir sem intender pq minha cabeça continua em mim!

Wolfgang Pistori said...

la secuta partita!

Conhecia vc como um coveiro conhece um morto, ve soh uma vez e olhe la, e com o tempo......

já não era mais o retrato da mulher do túmulo; era de
uma, viva, que me falava.
Com que surpresa, verifiquei isso.
Pois eu, que vivia desde os dezesseis anos,
despreocupadamente, passando pelos meus olhos, na Rua
do Ouvidor, todos os figurinos dos jornais de modas, eu me
impressionar por aquela menina do cemitério! Era curioso.
E, por mais que procure explicar, não posso