Saturday, October 11, 2008

Marginal

Sinto-me à margem de minha própria vida.
À margem dos amigos que deixei no passado (e as juras? onde moram agora? num túmulo florido?)
à margem dos amores doentios que me davam prazer, (eles sempre me deixaram à margem, eu já disse uma vez que sou masoquista, não?!)
à margem do meu trabalho, (palavrório, impotência, quem sou eu? um dinheirinho para sobreviver)
à margem de meus estudos (aonde isso vai me levar? queria poder errar menos; viver mais na realidade; sonho em ser uma escritora razoável, algum dia, talvez, mais que isso é ilusão)
à margem da minha família, (mãe, um beijo de café da manhã, amo você, queria ter tempo para dormir entre você e papai... eu ainda tenho medo... papai se pudesse quebraria todos os relógios do tempo, eu sei)
do meu garoto (vejo você como meu Jesus?)
também à margem da religião...
deixei de lado minha vida espiritual, não concordo com a idéia que a Igreja me oferece:
Jesus morreu por você; sofreu por você; foi chicoteado por você; martirizou-se para salvar a você...
E cruzes com sangue... coroa de espinhos.
é muito fácil notar que essa idéia de "liberte-se, você tem um salvador que sofreu por seus pecados" nos torna adoradores do sofrimento alheio.
quem é que não sorri tendo em vista seu bode expiatório? (finalmente, me explicaram o sentido dessa expressão)
acho que volto à velha concepção de que somos bem e mal, e sei que não devo explicar, vocês entendem.


Insensibilidade (essas coisas que escrevemos em dias de revoltas reflexivas)

Lê revistas femininas, enquanto acha graça nesse meu sorriso metálico, e imagina o novo cabelo.
Tem-me flor desabrochada. É seiva de meu lamento.
Está fazendo calor nesse edredon (somos calor!). Mas continue aqui, esconda-se!
Vele o meu sono fingido.
Não sei entender a distância,
preciso de seu aconchego-útero.
Sei bem que você se transforma em mim.
Não falo em androginia (que desespero essa palavra me dá!)
Também não falo propriamente de sexo.
"Não é só isso! Como eu te amo!"
Será Amor?
amor de mãe, sou fetal... fétida!
Uma alma bondosa?
perdoa a Deus por mim. Deus tem piedade?
o sujeito oculto não tem.
O esboço de um pai?
dá-me balinhas e chocolate, sua mãozona para atravessarmos a rua, beija-me a fronte, "meu bebê"...
Um afetado pelo ostracismo?
"Você apagou todo o meu passado... me trouxe ostras coisas, sabia?"
Não fitava-lhe os olhos,
meus olhos eram horizonte embaçado de perguntas.
Deliciava-me ao ver a disparidade entre nossos modos: suas palavras infinitas, meu silêncio de indiferença.
Olhei com medo, meus olhos temiam os dele.
Ele é um estranho para mim ... todos os dias, desde que nos conhecemos.

8 comments:

Beth Carolina said...

Rafa... me senti a margem de tudo tb dirante a semana passada... ainda bem que passou.

Gosto demais do jeito que vc escreve e tenho certeza que vai ser uma escritora bem melhor do que só razoavel...

Beijo

O Profeta said...

Atravesso o céu em sonhos
Três aves do mar, três raios de sol, três punhais
Seguem-me apontados à solidão
Ah este vento que sopra nos brandais



Um feliz domingo para ti



Mágico beijo

Tyler Durden said...

Sabe o que é engraçado? Embora as palavras sejam unicamente suas e cheias de significados particulares, consigo enxergar bastante de mim nelas.

E tenha certeza que você já é muito mais do que razoável.

E quanto ao blog, um dia ele volta. Só não sei quando

Beijos.

Unknown said...

Oi Rafa,

To aqui não só pra agradecer a "estrelinha" deixada em um dos meus posts, mas tbm por vc se fazer sempre tao presente em minhas publicações e por ter a mágica das palavras emboscada em seus punhos, sempre tão fortes e coerentes.
Bom saber que alguem cm vc me admira, é uma honra, posso afirmar.
No fds volto aqui pra da uma lida em suas postagens e atualizar as minhas.

Bjos grandão e otima semana pra vc
=**

R. said...

Olha, fora da margem há sempre poesia e escapismo. Do meu lado sempre a distração, bar, álcool, sempre. Um boêmio bon vivant? Até crescer, depois a gente filosofa menos, corre menos, encara mais. E leva a vida, assim. Debaixo do braço.
.
.
Acho que ficou incompreensível.

Quanto às suas perguntas... O amor é verdade. Taí, flutuando ao redor. Só não é constante. Se passou não significa que não existiu. E a morte? A morte também é verdade. Só não é eterna. Tamos lá e cá sempre, de quando em quando.

Beijos!

Rodrigo Sioly said...

Filosofamos mais na vida quando somos muito inoscentes...
Depois que aprendemos ou pelo menos achamos que aprendemos algo, paramos de nos perguntar...

A morte é a maior certeza e a maior dúvida do homem...

Parabens... belo post...

Candy said...

Eu tb já me senti a margem e ainda me sinto por diversas vezes. Mas hoje, especialmente hoje, estou bem. Não estou marginal, estou na estrada principal.
Isso é tão gostoso!
Mas tenho que confessar que estar na marginal já virou um vício pra mim, eu o busco.

Estou de volta, querida!
\o/
:D

=****

ChulapA said...

nossa, show de bola o seu post
parabens
e desculpe a demora..pois estava de ferias..ehehehe..
bjs e td de bom