Sinto-me à margem de minha própria vida.
À margem dos amigos que deixei no passado (e as juras? onde moram agora? num túmulo florido?)
à margem dos amores doentios que me davam prazer, (eles sempre me deixaram à margem, eu já disse uma vez que sou masoquista, não?!)
à margem do meu trabalho, (palavrório, impotência, quem sou eu? um dinheirinho para sobreviver)
à margem de meus estudos (aonde isso vai me levar? queria poder errar menos; viver mais na realidade; sonho em ser uma escritora razoável, algum dia, talvez, mais que isso é ilusão)
à margem da minha família, (mãe, um beijo de café da manhã, amo você, queria ter tempo para dormir entre você e papai... eu ainda tenho medo... papai se pudesse quebraria todos os relógios do tempo, eu sei)
do meu garoto (vejo você como meu Jesus?)
também à margem da religião...
deixei de lado minha vida espiritual, não concordo com a idéia que a Igreja me oferece:
Jesus morreu por você; sofreu por você; foi chicoteado por você; martirizou-se para salvar a você...
E cruzes com sangue... coroa de espinhos.
é muito fácil notar que essa idéia de "liberte-se, você tem um salvador que sofreu por seus pecados" nos torna adoradores do sofrimento alheio.
quem é que não sorri tendo em vista seu bode expiatório? (finalmente, me explicaram o sentido dessa expressão)
acho que volto à velha concepção de que somos bem e mal, e sei que não devo explicar, vocês entendem.
Insensibilidade (essas coisas que escrevemos em dias de revoltas reflexivas)
Lê revistas femininas, enquanto acha graça nesse meu sorriso metálico, e imagina o novo cabelo.
Tem-me flor desabrochada. É seiva de meu lamento.
Está fazendo calor nesse edredon (somos calor!). Mas continue aqui, esconda-se!
Vele o meu sono fingido.
Não sei entender a distância,
preciso de seu aconchego-útero.
Sei bem que você se transforma em mim.
Não falo em androginia (que desespero essa palavra me dá!)
Também não falo propriamente de sexo.
"Não é só isso! Como eu te amo!"
Será Amor?
amor de mãe, sou fetal... fétida!
Uma alma bondosa?
perdoa a Deus por mim. Deus tem piedade?
o sujeito oculto não tem.
O esboço de um pai?
dá-me balinhas e chocolate, sua mãozona para atravessarmos a rua, beija-me a fronte, "meu bebê"...
Um afetado pelo ostracismo?
"Você apagou todo o meu passado... me trouxe ostras coisas, sabia?"
Não fitava-lhe os olhos,
meus olhos eram horizonte embaçado de perguntas.
Deliciava-me ao ver a disparidade entre nossos modos: suas palavras infinitas, meu silêncio de indiferença.
Olhei com medo, meus olhos temiam os dele.
Ele é um estranho para mim ... todos os dias, desde que nos conhecemos.